Insuficiência na produção de alimentos no Estado da Bahia
Nos dias 27, 28 e 29 de agosto, foi realizado no Centro de Convenções de Salvador a INDEX – O ENCONTRO DO FUTURO DA INDÚSTRIA BAIANA. Reunindo empresas, líderes e produtores, o evento realizado pelo SEBRAE e pela FIEB - Federação das Indústrias da Bahia, com apoio institucional do Governo do Estado e patrocínio de entidades, empresas e agentes financeiros, buscou impulsionar negócios e a troca de conhecimento, novas oportunidades de negócios junto ao mercado, e expansão e fortalecimento do setor industrial.
Entre as diversas empresas que ali expuseram seus produtos, mereceu destaque a indústria local de bens de consumo, notadamente na área de vestuário, de acessórios de couro e de alimentos. Excelência na produção dos doces, queijos, e dos premiadíssimos chocolates.
Lamentavelmente, produtos de reconhecida qualidade pouco chegam ao mercado consumidor na Bahia e no Brasil. Iguarias ainda não encontradas em supermercados e mercearias onde a população se abastece. Grande parte dessa produção encontra-se em estágio pouco avançado. Empresas com recursos limitados, carente de maiores incentivos tecnológicos e financeiros para desenvolver a produção em larga escala, minimizar custos e atingir o grande público.
Com seu parque industrial baiano focado na produção de bens intermediários, ainda é incipiente a produção de bens de consumo no Estado. Desenvolver a industrialização desses bens e da agroindústria, associa-se à produção territorial de matéria prima. O Estado da Bahia é o maior produtor de cacau, o 2º de algodão e de frutas, o 7º produtor de soja e o 4º de café e de laranja. Contudo, esses produtos são destinados ao exterior ou para industrialização em outros Estados, perpetuando baixa agregação de valor, emprego e renda.
Atualmente, a Bahia não produz alimentos suficientes para sua população. Não produz trigo nem arroz. Grande parte da carne bovina, suína e de frango, do leite em pó e derivados lácteos, do feijão e da farinha de mandioca, do milho e das bebidas, procede de outros estados.
Com o fechamento da EBDA em 2016, a transmissão do conhecimento técnico aos produtores rurais ficou limitada a cerca de 150 técnicos da BAHIATER e 200 do CAR, com atuação na assistência técnica à agricultura familiar. Só o grande produtor conta com modernas máquinas e técnicos competentes. O pequeno e o médio produtor ainda dependem da pesquisa e da assistência governamental para avançar. Sem o que, a produtividade se mantém rudimentar.
Dentre outros fatores cruciais, há carência de investidores e de financiamentos compatíveis com atividade de risco. O Estado ressente-se de empresários que acreditem no potencial da agroindústria, da produção de bens de consumo. As lideranças políticas e empresariais, as entidades responsáveis pelo desenvolvimento da agropecuária e da indústria precisam atentar para a incipiente oferta de crédito pelos agentes de fomento.
É preciso exigir que cumpram sua função.
Segundo o portal do BNDES, 4,7% de seus desembolsos no primeiro semestre de 2025 foram para a Bahia, com expressivo crescimento em relação a anos anteriores. O Banco do Nordeste, ainda ausente em muitas cidades do território baiano, informou em seu Relatório de Gestão FNE 2023, a destinação de 19,7% do Fundo Constitucional do Nordeste para Minas e Espírito Santo e 80,3% para o Nordeste, sendo 24% no Estado da Bahia. De sua rede de 298 agências, apenas 58 situam-se na Bahia, que detém 26% da população e mais de 1/3 do PIB nordestino.
Quanto à atuação da DESENBAHIA - Agência de Fomento do Estado da Bahia, nos balanços de 2001 a 2024 o saldo de operações da agência cresceu 147,25% - de R$ 310,74 milhões para R$ 768,30 milhões. Nesse bojo, além dos recursos do FUNDESE (destinados a agricultura familiar), a DESENBAHIA utiliza recursos do FINEP, do BNDES e do Banco do Nordeste (FNE) no financiamento das atividades produtivas no território baiano. Esse crescimento não acompanhou a variação do IPCA no período, 294,27%, segundo o IBGE. Em resumo o valor aplicado nessas operações de fomento experimentou grave e lamentável redução.
DESENBAHIA - EVOLUÇÃO DAS OPERAÇÕES DE FOMENTO |
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(ANOS DE 2001 A 2024 - EM R$ MILHÕES) |
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MOVIMENTAÇÃO ANUAL |
2001 |
2006 |
2010 |
2015 |
2019 |
2023 |
2024 |
OPERAÇÕES APROVADAS |
570,59 |
99,77 |
626,2 |
802,78 |
|
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LIBERAÇÕES DESENBAHIA |
136,66 |
84,94 |
219,9 |
208,08 |
121,1 |
181,14 |
238,87 |
LIBERAÇÕES DO FUNDESE¹ |
182,54 |
38,8 |
98,61 |
130,72 |
|||
LIBERAÇÕES TOTAIS |
390,62 |
159,9 |
279,75 |
369,59 |
|||
SALDO DA CARTEIRA DESENBAHIA |
310,74 |
339,67 |
336,66 |
653,28 |
689,2 |
681,82 |
768,30 |
SALDO DA CARTEIRA FUNDESE |
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609,1 |
478,16 |
483,19 |
Fonte: DESENBAHIA / Demonstrações Contábeis (*)
Enfim, as taxas de juros ora aplicadas no financiamento às atividades produtivas – de TLP + 3,5% ao ano para pequenas empresas ou projetos específicos até a taxa SELIC, não incentivam os produtores a novos empreendimentos. Crescem o risco e as taxas de inadimplência. Os recursos são alocados noutros investimentos e títulos do tesouro. A previsão de taxar em 5% os rendimentos das LCAs, origem de 29,1% dos recursos direcionados à safra agrícola 2024/2025, irá comprometer ainda mais a atratividade das Letras de Crédito Agropecuário e, consequentemente, a disponibilização de recursos para o custeio agrícola.
Compete aos entes governamentais e empresariais cobrar maior atuação dos agentes no apoio financeiro à produção, objetivando aproveitar as potencialidades econômicas do estado para geração de riquezas e melhoria da qualidade de vida de nossa gente. É preciso planejar e incentivar novos empreendimentos, geração de empregos e de riqueza.
Há alguns anos a economia baiana ostentava o 6ª lugar. Foi suplantada pela economia catarinense. Ora é notável o avanço nos Estados do Ceará, Goiás, Espírito Santo e Mato Grosso, onde despontam boas oportunidades de negócios. Com as melhores fontes de energia limpa, minérios, mar e terra promissora, a Bahia precisa explorar suas potencialidades, via lideranças políticas e empresariais, viabilizando o desenvolvimento de sua economia e de sua gente.
https://blogdodesenvolvimento.bndes.gov.br/blogdodesenvolvimento/detalhe/Relatorio-Anual-Integrado-do-BNDES-apresenta-resultados-e-impactos-de-sua-atuacao-em-2024/
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