IAF Entrevista Teresa Cristina Dias Carvalho
O IAF teve a honra de entrevistar Teresa Cristina Dias, Auditora Fiscal aposentada, que através de profissionalismo e dedicação construiu uma trajetória de sucesso. Confira!
1 - Pode me relatar uma pequena biografia pessoal e profissional?
Dedico minha trajetória pessoal e profissional aos meus pais, em especial a minha mãe, Zélia Tereza de Almeida Dias, agora com 89 anos, mulher resiliente e sábia, que exerceu a carreira no Magistério em escolas públicas do Estado, professora nata por vocação. Ela praticou com dedicação e amor a sua tarefa, aposentando-se aos 62 anos, momento em que graduou-se em Letras na UCSAL - Universidade Católica de Salvador. Quanto à sua família, ainda cuida e se preocupa com todos nós, sua “herança bendita”, como nos denomina.
Nasci em Salvador, Bahia, onde resido até hoje, cidade luminosa, cheia de encantos naturais, com uma população doce, resiliente, religiosa, no geral. Casei-me cedo e tenho 04 filhas, 03 netos e mais 01 sendo gestado, o que me torna feliz e encantada com a vida e seus movimentos temporais.
Com o falecimento de meu pai, chefe de família responsável e amoroso, em 1974, minha mãe encarregou-se, com muita dedicação e integridade, a criar os 04 filhos, o primogênito com invalidez permanente, fato ocorrido quando ele tinha 15 anos e que muito nos impactou. Assim, ficou impossibilitado de estudar e trabalhar.
Minha mãe dedicou-se integralmente a esse filho, que retornou à pátria espiritual aos 40 anos.
Peço escusas se tomo o tempo de vocês com tal narrativa, mas tudo isso se entrelaça em mim, compõe a história de minha vida.
Devido ao esforço de meus pais, e de sua visão de futuro, estudei em excelentes colégios, Colégio das Mercês e Colégio Marista, tendo este último marcado indelevelmente a minha jornada pelo apoio e acolhimento que recebi por parte dos queridos colegas e diretores, inclusive bolsa de estudos, para finalizar o científico. Uma nobre instituição de ensino cujas lembranças me proporcionam belas e gratas recordações.
O lema da minha casa foi sempre o da Educação, e nossos pais não pouparam esforços e sacrifícios para proporcionar aos 04 filhos a verdadeira e melhor herança, a da formação escolar até a formatura universitária. Consciente de que - Conhecimento é Poder e Poder é Serviço, para todos os que compõem a Administração Pública, ingressei na Secretaria de Fazenda do Estado da Bahia, no cargo de Auditoria Fiscal.
No lado pessoal sempre busquei respostas para saber qual o sentido da vida, o que viemos fazer aqui, qual é o destino, como modificá-lo, por que sofremos, o que é a felicidade etc. Católica por origem, ingressei no rumo das religiões orientais, e ao final, na Doutrina Espírita, no seu estudo e práticas, para obter essas respostas e ter um caminhar mais claro e seguro. Tenho a convicção de que temos que tomar a decisão de ser feliz, e com essa firmeza, a partir daí, alcançarmos, um dia, a tão sonhada Plenitude.
Hoje sei que as religiões, em sua pureza doutrinária, buscam a mesma coisa, a construção de um ser humano melhor, a prática do Amor e do Bem, tendo como base a existência de Deus, e de um Ser Maior, Jesus, Budha, Alá etc.
Ingressei na Secretaria da Fazenda em 1983, no cargo de Auditora Fiscal, recém formada em Administração de Empresas pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL), após traçar a meta de ser aprovada no Concurso Público realizado em 1981. Para isso, estudei intensamente. Permita- me colocar um fato e talvez uma dica: gravei todo o Regulamento do ICMS, em fita cassete, meio disponível à época, e ouvia o dispositivo à noite e nos períodos em que parava de estudar os assuntos do Edital. Na ocasião desconhecia totalmente tal Regulamento, mas acredito que minha mente estava atenta à escuta dos seus princípios e práticas.
A minha nomeação e posse proporcionaram-me muita alegria, e a esperança de ter um futuro mais seguro, profissional, pessoal e financeiro.
Ingressa na SEFAZ, e, cinco anos após a primeira graduação, permiti-me o estudo acadêmico do Direito, também na UCSAL. Graduada, tive a honra e o privilégio de ser discípula do Mestre José Joaquim Calmon de Passos, Coordenador do Curso de Direito Processual Civil, pós graduação lato sensu, na UFBA - Universidade Federal da Bahia . Em suas magníficas aulas, este - Multiplicador de uma Postura Diferenciada - nos legou a importância do Pensar Jurídico, a necessidade de filtrar as informações que passam por nós, sempre recheadas de interesses de pessoas, grupos ou de instituições e empresas. Eterna gratidão ao Mestre Calmon de Passos.
Também cursei a Especialização em Direito Civil, coordenada pelo Prof. Milton Tavares, na UFBA. Minha gratidão pelas aulas e conhecimentos adquiridos, por meio do notável advogado baiano.
Na Sefaz, convivi fraternalmente com muitos colegas, tornados verdadeiros amigos, com quem contei para trocar experiências e orientar-me na prática da fiscalização. Deixo, para cada um deles, o reconhecimento e um lugar especial no coração.
Aposentei-me na função de julgadora administrativa fiscal, no CONSEF - Conselho de Fazenda Estadual, em que por 20 anos, consciente da importância do meu trabalho na relação tributária fisco-contribuinte, sempre comprometida em buscar a verdade material presente em cada processo administrativo fiscal, mesma postura identificada nos meus colegas e Presidentes do CONSEF.
2 - O que mais te orgulha na trajetória profissional?
Dizer o que mais me orgulha na trajetória profissional não é tarefa fácil. Me orgulho da tenacidade e perseverança que tive para me realizar profissionalmente e ter um desenvolvimento pessoal ao lado do desempenho de minhas funções no Cargo de Auditora Fiscal.
Muito me orgulha ter contribuído, qualquer que tenha sido a escala, para o Estado da Bahia, na nobre responsabilidade de trazer recursos para o atendimento às necessidades da população, em termos de saúde, educação, assistência social, dentre muitas outras.
No CONSEF, busquei aplicar os novos conhecimentos adquiridos na Pós Graduação em Processo Civil, a partir da recém promulgada Constituição de 1988, que traçou princípios e normas quanto ao devido processo legal, as garantias fundamentais do cidadão dispostas no Art. 5º da Carta Magna, pedras fundamentais do exercício da cidadania, e, portanto, invioláveis.
Muito me gratificou a convivência com os colegas e com os que ocuparam a função de chefia nesses 36 anos de permanência na SEFAZ.
Muito me orgulha ter desempenhado minhas funções com comprometimento, responsabilidade e alegria.
Não posso deixar de mencionar as conquistas que nossa classe alcançou com a criação da ASFEB - Associação dos Servidores Fiscais do Estado da Bahia, que com muito empenho e competência cuida da nossa saúde, e também do IAF - Instituto dos Auditores Fiscais, órgão de classe que nos representa bravamente.
Servir ao meu Estado da Bahia foi e é motivo de honra e de crescente estima para mim.
Afinal, saliento que guardo na lembrança momentos especiais na SEFAZ, que fazem parte de mim mesma para sempre. Obrigada, Senhor!
3 - E na trajetoria pessoal?
O aprendizado constante me levou a ampliar o pensar, o sentir e o falar. Aprendi que, como assevera Leon Denis, a vontade é a maior potência da alma, e ela nos leva ao ponto em que queremos chegar. O pensamento molda o nosso caminho.
Me orgulha ter a convicção de que a Esperança não pode morrer em nós, e que a Educação é a verdadeira fonte da construção do ser humano.
Me orgulho de ter constituído a família que muito me enobrece. Também por ter dado conta dos muitos afazeres diários, participar e acompanhar o crescimento das filhas, ter tido a oportunidade de, em férias, viajar e conhecer outras culturas, cada população com seu modus vivendi próprio e singular.
4 - Quando sentiu, identificou que realmente havia se tornado aposentado?
Sinceramente, a transição que passei de ativa na SEFAZ para aposentada não foi fácil. Na verdade, não me encaixo nessa denominação, que, infelizmente, tem um conceito um tanto quanto deturpado.
Estou cada vez mais ativa e participante nas tarefas diárias, inclusive nos cuidados paliativos com minha mãe, a qual tenho acompanhado e dado assistência nesses anos de doença.
Permanece em mim a vontade de não cessar o meu desenvolvimento profissional e pessoal.
Parar, nunca!
5 - O que gosta de fazer nas horas vagas?
Gosto de ler, praticar exercícios físicos, de ter contato com a natureza, o mar, o campo, ir para o litoral norte e descontrair-me.
Conviver com a família e os netos preenche -me de alegria.
6 - Descobriu algum hobbie ou aprendeu algo após a aposentadoria?
Por enquanto, os hobbies são os mesmos. Passado esse momento turbulento de pandemia, pretendo voltar a ter contato com a língua inglesa. Estudar filosofia também está nos meus planos.
Aprendi que o tempo é precioso, não posso desperdiçá-lo e devo me ocupar com cuidados pessoais, exercícios, boa alimentação e práticas espirituais, para manter a saúde e o bem estar.
Estudo a psicologia transpessoal, por meio de curso presencial e agora on-line, palestras e leituras. Continuo no trabalho voluntário realizado por meio da Doutrina Espírita, do qual muito me orgulho.
7 - Como define sua vida pós aposentadoria?
Defino-a como vida de não aposentada. Infelizmente, esse termo traz a pecha de velhice, simboliza aquele que nada faz nem contribui para a sociedade.
Efetivamente, há uma diferença entre envelhecer, processo biológico a que todos estamos submetidos, e a velhice, a qual simboliza aquele que é definido por características que se referem ao seu comportamento (ranzinza, acomodado, reclamar de tudo, deixar de sonhar, dentre outros) .
Definitivamente não é meu caso, embora saiba que não há respostas definitivas para nada no mundo.
Para mim, aposenta-se quem desiste da vida, a qual nos traz constantes mudanças requer adaptações corajosas e bastante resiliência.
Não é fácil! Mas é o que nos resta, trilhar e buscar sempre a tomada de decisões permeadas de discernimento e autoamor..
8 - Coronavirus.
Fomos pegos de surpresa quando começou a pandemia, tudo era incerteza e perplexidade. Permaneci no isolamento total por mais de um ano, período que nos trouxe muitas reflexões e aprendizado.
Perdi amigos, outros permaneceram nos hospitais por longo tempo, o medo se instalou em nós.
Para suportar tantas dores, orei muito. Foi um período de devoção e entrega a Deus. Hoje convivo com o vírus com mais tranquilidade, saio de casa sempre protegida, quando necessário, com uso de álcool gel, máscara e atenta ao isolamento social.
Para finalizar, agradeço a quem lê essas linhas, em que procurei, mais que tudo, falar pelo sentimento e pela gratidão. Deixo uma mensagem de que nunca desistamos da Vida, que é bela e consentida. Jovens, estudem, caminhem no Bem e sejam perseverantes. O ideal traçado chegará para todos, na hora certa, no momento apropriado. Estamos sob os cuidados de Deus. Assim Seja!
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