LÍLIA DE SOUZA
"Sindicalistas do governo nos trouxeram um peleguismo disfarçado na forma e idêntico aos fins do predecessor". O autor da frase, o colunista da Folha de S.Paulo Jânio de Freitas, chamou, na semana passada, a atenção para o "neopeleguismo" – patente no momento em que propostas conservadoras miram novamente em direitos trabalhistas no País.
Sindicalistas e aposentados estão frustrados com os ?companheiros? da heterodoxa base governista que aprovaram na Câmara, de maneira folgada, a Emenda 3, abrindo caminho para uma flexibilização ainda maior das relações trabalhistas com o estímulo a contratações precarizadas. O veto de Lula à emenda, mantendo uma mínima coerência com a sua história sindical, pode vir a ser julgado no Congresso, que tem o poder de derrubálo; fato bem provável caso vá à votação, já que as forças na Casa, inclusive às aliadas ao governo, vêem com extrema simpatia a proposta.
O governo parece fingir negociar com os trabalhadores uma solução que salve o veto. Nas entrelinhas, fica tácito o tendenciosismo para o bloco do patronato, em busca de algo que possa lhe oferecer em troca, colocando, disfarçadamente, a CLT de lado. Enquanto isso, com mais esta questão da Emenda 3, Lula continua com sua imagem passando ao largo dos imbróglios do governo.
Coisa de quem parece ter aprendido bem as lições de casa da política moderna. Lembremos do capítulo XVIII de O Príncipe, em que Maquiavel dá conselho notável: "…os príncipes devem delegar para outras pessoas as tarefas impopulares e conceber os favores pessoalmente. A conclusão, novamente, é que os príncipes devem estimar os nobres, mas evitar o ódio do povo".
Entre as medidas amargas, outro descalabro é o projeto do senador Aloízio Mercadante (PT-SP) que muda o cálculo do auxílio-doença pago pelo INSS, reduzindo à sua metade ou mais as pensões por morte ? defendido pelo governo e seu ministro da Previdência, o também "companheiro" e ex-sindicalista Luiz Marinho. Os argumentos são os de sempre: "Há distorções no pagamento do benefício"; da mesma forma, os resultados mostramse previsíveis, em um Congresso onde os interesses patronais falam mais forte.
Quanto aos estridentes funcionários públicos, o governo prepara a regulamentação do direito de greve, buscando limitá-lo, mas não acena com a instituição do mecanismo da negociação coletiva, princípio estabelecido pela OIT. Por falar neles, os da Bahia estão indignados com a proposta descabida de reajuste de 3,3% feita pelo governo Wagner. O governador, como resposta, declarou a um programa de rádio que "não vendeu ilusões em sua campanha política".
Para a decepção de quem apostou em mudanças, o governo ganha as tintas da "Revolução dos Bichos" – será o triunfo dos porquinhos de George Orwell, no Brasil e na Bahia? Isola. Ainda há muito pela frente, este é ainda o primeiro Dia do Trabalhador dos quatro anos de prazo para que os "companheiros" mostrem a que vieram.
Fonte: Jornal A Tarde, 1º Caderno, 01/05/2007
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