A falta de mão de obra qualificada não é um limite ao crescimento econômico, mas apenas um desafio típico de uma economia que atravessou décadas de estagnação, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Esse é um bom problema para o Brasil, especialmente porque o País passou muito tempo exportando cérebros", diz Marcio Pochmann, presidente do Ipea, que coordenou neste trabalho os pesquisadores André Campos e Ricardo Amorim.
Segundo Pochmann, a grande maioria da mão-de-obra brasileira tem capacidade para atender à demanda atual, tanto em termos de qualidade da formação como em quantidade de pessoas desempregadas. O ano de 2007 terminou com um saldo de cerca de 84 mil profissionais qualificados e com experiência profissional ainda sem emprego. A falta de empregados qualificados se concentram em alguns setores, como a extração de recursos minerais, mas, principalmente, porque o emprego está sendo gerado em outra região do País.
"É preciso, porém, que a iniciativa privada invista mais em qualificação, como acontece em outros países. O empresariado não pode esperar que o sistema de ensino ofereça profissionais que atendam a interesses específicos de cada empresa", diz. Para Pochmann, são poucos os setores nos quais as empresas percebem a necessidade de fazer uma educação continuada, treinando os empregados com regularidade.
Segundo ele, 80% dos cerca de oito milhões de desempregados brasileiros não têm experiência profissional e chegaram à maturidade sem conhecer o comportamento de um ambiente de trabalho. Para Pochmann, isso é um problema a ser resolvido mesmo dentro do local de trabalho. "O ProJovem é uma boa iniciativa para tratar deste problema, mas é preciso muita articulação com o setor produtivo", diz.
Sistema único – Ao mesmo tempo, os empresários também perderam a prática de contratar e selecionar com eficiência, porque reduziram os departamentos pessoais. A prática comum é manter a estratégia do período de estagnação, quando se oferecia pouco salário e se exigia muita escolaridade e formação. Agora, a situação do mercado mudou e é preciso ser feita uma readequação. Pochmann defende a criação de um sistema único nacional de atendimento ao desempregado, para que seja feita uma pré-seleção dos candidatos e a orientação ao empregador, especialmente a pequena e média empresa. "O dono de um açougue quer um balconista que fale inglês e receba um salário mínimo. Se continuar com essa idéia, a vaga ficará em aberto para sempre", exemplifica.
Para ele, a necessidade de que o sistema seja único e nacional, é facilitar o cruzamento de dados e excluir a duplicidade de informações. Enquanto forem muitos serviços, o desempregado fará sua ficha em todos e o empregador colocará vagas também em todos. Além de produzir números que dão um tamanho irreal ao problema, a multiplicidade de serviços dificulta o atendimento. Segundo ele, o ideal seria ter a informação das vagas em todas as cidades do País, com convênios em todas as prefeituras, governos locais e entidades de classe, todos trabalhando com uma só metodologia.
"A estratégia deveria ser unificar o serviço de apoio e oferecimento de cursos de qualificação em torno do atendimento ao seguro-desemprego", afirma. No mesmo balcão, o desempregado deveria poder fazer o pedido do seguro, descobrir se há vagas com seu perfil.
Por exemplo, se houver um sistema nacional, um técnico qualificado em São Paulo ficará sabendo de uma vaga com seu perfil numa cidade do Ceará, onde ele pode ter família ou ter algum outro atrativo. Um sistema único oferece os meios de planejar a migração. Segundo o estudo do Ipea, no Norte, Sul e Centro-Oeste, faltam trabalhadores qualificados e com experiência profissional. Já nas regiões Sudeste e Nordeste, que são as mais populosas, sobram trabalhadores preparados para ocupar empregos formais.
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