Para ter sucesso é preciso estudar 3 mil horas
20/10/2008 – 00h00 ( – A Gazeta)

Diná Sanchotene
dsanchotene@redegazeta.com.br

Está cada vez mais difícil passar em um concurso público. O sonho da estabilidade no emprego só se realiza para quem se dedica muito e tem um pouco de sorte na hora da prova. Os número mostram que apesar do número de vagas ter crescido, a concorrência registrou um aumento ainda maior. Se em 2007, eram 50 candidatos por vaga, a previsão é de que 61 pessoas concorram a mesma chance no serviço público.

De acordo com informações da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), em 2007, foram registradas 5 milhões inscrições, enquanto que este ano, a expectativa é de que 8 milhões de candidatos participem de processos seletivos até o final do ano. Em 2007, foram oferecidas 100 mil vagas entre concursos nacionais, estaduais e municipais. Já este ano, a expectativa é de sejam abertas 130 mil novas oportunidades, das quais 42 mil somente na esfera federal.

Segundo a diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos – Seccional Espírito Santo (ABRH-ES), Maria Rita Sales, o número de vagas não aumenta em conformidade com o aumento da população. "As vagas em concursos públicos aumentam conforme a necessidade de expansão dos serviços prestados. Em algumas áreas do serviço público a expansão é maior, em outras nem tanto. Obedece também os critérios de substituição do pessoal da ativa que vai se aposentando", explicou.

Para conquistar a tão sonhada vaga, é necessário ter muita dedicação e persistência. A coordenadora pedagógica do Centro de Evolução Profissional (CEP), Ivone Goldner, afirmou que está comprovado que para ter sucesso em um concurso de nível elevado, como os da área fiscal (Auditor da Receita Federal do Brasil, ou do Trabalho), cujos editais estão para ser publicados, são necessárias, em média, três mil horas de estudo, o que significa mais ou menos seis horas por dia, durante um ano e meio.

Já a diretora da ABRH-ES, Maria Rita Sales, ressaltou cada candidato deve encontrar o ritmo ideal para estudar. Segundo ela, cada pessoa conhece seu próprio ritmo e quanto consegue se dedicar. "O mais importante talvez seja estabelecer metas a serem cumpridas diariamente com o estudo e procurar cumpri-las fielmente, sem desviar o foco do objetivo final que é estar completamente preparado para o concurso", disse.

Política
A diretora executiva a instituição, Maria Thereza Sombra, informou que o estudo foi desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e durou um ano e meio.

"Nos chamou a atenção o fato de que os concursos estão totalmente ligados à política. Percebemos que após o resultado das eleições, os concursos são realizados no segundo ano de mandato, porque os governadores, por exemplo, costumam arrumar a casa antes de contratar novos servidores", disse Maria Theresa.

Seleção
19.475 vagas
foram abertas pelo governo federal até agosto deste ano, conforme dados da Anpac

Ex-morador de rua faz história e passa no BB
A determinação do ex-morador de rua de Recife Ubirajara Gomes da Silva, 27 anos, fez com que ele fosse um dos aprovados no concurso público para escriturário do Banco do Brasil. Enquanto vivia de fazer bicos e pedir esmola, Ubirajara Gomes da Silva, de 27 anos, passou quase um ano carregando pelas ruas do Recife uma folha de papel dobrada com o comprovante de classificação no concurso do Banco do Brasil. Para estudar, Silva costumava usar computadores em bibliotecas públicas e lan-houses que cobram preços baixos pelo uso. As provas, que foram realizadas em agosto do ano passado, tinha 150 questões e Silva acertou 116.

Trabalho, estudo e muita dedicação
A concurseira Patrícia Lucas Palhano Módulo está estudando há três anos para concursos públicos. Ela, que já passou em algumas seleções fora do Estado, não parou de trabalhar para se dedicar aos estudos. "Várias amigas pediram demissão para se dedicar exclusivamente aos estudos, mas percebi que ficar sem dinheiro é pior. Optei em trabalhar pela manhã, estudar a tarde na biblioteca e a noite em casa", contou. Patrícia se dedica apenas aos concursos de tribunais. "Sei que a concorrência está muito alta, mas acredito que ainda falta um pouco trabalhar o emocional. Para se ter uma idéia, tive que viajar para fazer prova no Mato Grosso e o meu filho estava doente. Resultado: quase não consegui me concentrar no teste", disse.

Disposição financeira e pessoal
Pense
Pense bem antes de abandonar ao trabalho para se dedicar somente aos estudos. Tenha consciência de que a maioria dos candidatos obtiveram sucesso em concurso público conciliando trabalho e estudo.

Renuncie
Para quem está determinado, não há dúvidas que o maior investimento que tem a fazer é o pessoal. É necessário fazer renúncias relativamente a muitas horas de sono, lazer, convívio familiar, para que o objetivo seja atingido.

Espere
É determinante fixar um prazo, ou seja, o tempo que dará a si próprio para ser aprovado na seleção desejada. O candidato não pode ser imediatista.

Invista
Faça investimentos financeiros em um bom curso preparatório – cujo valor é variável, mas, em se tratando de um preparatório de qualidade com, no mínimo 300 horas/aulas, o investimento nunca será inferior a R$ 1 mil. També invista em materiais extras, como, por exemplo, livros específicos acerca de determinados temas do conteúdo programático.

Fonte: William Douglas, juiz federal e professor, e Ivone Goldner, coordenadora pedagógica do Centro de Evolução Profissional (CEP).

Como chegar lá
Veja as dicas para conseguir passar numa prova

1 > O preço
Primeiro, toma-se a decisão de melhorar de vida e, depois, se pagar o preço para conseguir isso. É uma caminhada longa e trabalhosa, mas menos do que não passar, do que ficar com desemprego. Vale a pena.

2 > O estudo
É preciso um processo de amadurecimento intelectual e emocional, mas todos podem chegar lá se forem se aperfeiçoando aos poucos, sem desistir. Invista no estudo da língua portuguesa.

3 > As leis
No caso de concursos locais, estude com antecedência a legislação correlacionada ao órgão de seleção. No caso do Concurso do Tribunal Regional do Trabalho do Espírito Santo, por exemplo, deverá ser estudado todo o Direito do Trabalho;

4 > O conhecimento
Quem deseja disputar as vagas em que se exija conhecimentos gerais, como os da Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal, deve ficar atento ao que acontece no mundo, lendo jornais e revistas.

Tempo para estudar
3 mil horas de estudo

Já está comprovado que para ter sucesso em um concurso de nível elevado, como, por exemplo, os da área fiscal – Auditor da Receita Federal do Brasil, ou do Trabalho, cujos editais estão para ser publicados, são necessárias, em média, três mil horas de estudo, o que significa mais ou menos seis horas por dia, durante um ano e meio.

As prioridades
Faça um projeto de vida, colocando num papel todas as atividades diárias. Retire aquelas que não são prioridade ? ou que, embora importantes, possa abrir mão ? e encaixe ali suas horas de estudo. Se não conseguir horas para estudar é porque isso não é prioridade.

Atividades físicas
Para obter sucesso, considerando o grande desgaste que uma preparação para concurso representa, o candidato deverá estar bem física e psicologicamente. É necessário arrumar tempo para atividade física, devendo, ainda, cuidar do bom relacionamento familiar, pois o apoio das pessoas próximas é imprescindível para o equilibro.

Qualidade de vida
O ideal é estudar a maior quantidade de horas que puder, mas mantendo um mínimo de qualidade de vida e a qualidade do estudo. O "mínimo de qualidade de vida" é a quantidade/qualidade mínima de sono, lazer, família e atividade física que todos precisam. Respeite o "dia de descanso" ou pelo menos o "meio turno de descanso", não por razões religiosas (embora seja cristão), mas por razões de produtividade e recuperação das energias.

Privado ou público: veja se você está preparado
Antes de decidir mudar de ramo, avalie bem se você realmente tem vocação

Estabilidade e um bom salários. Esse é o sonho de milhares de brasileiros que tentam todos os anos conquistar uma vaga no serviço público. Mas antes de decidir mudar de ramo, avalie bem se você realmente tem vocação para mudar de empresa privada para pública.

A diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos ? Seccional Espírito Santo (ABRH-ES), Maria Rita Sales, ressaltou que o servidor público trabalha muito e recebe uma remuneração aquém do que realmente vale, principalmente os servidores públicos estaduais e municipais.

"O servidor deve ser dedicado à sua carreira, afinal é seu trabalho e ele deve sempre desenvolvê-lo com eficiência e dedicação, mesmo em momentos difíceis e de crise, como é o caso de algumas atividades do setor público. Deve-se gostar do que faz para se ter a realização profissional, senão o profissional deve procurar outra coisa para fazer", disse.

A diretora disse ainda que o servidor deve insistir e continuar a trabalhar mesmo diante das dificuldades apresentadas, insistindo em fazer da melhor forma possível o seu trabalho. "Creio que o servidor público, antes de tudo, é um idealista, e acredita realmente que pode melhorar as coisas dentro de suas atividades", afirmou.

Para a coordenadora pedagógica do Centro de Evolução Profissional (CEP), Ivone Golner, o serviço público independe de vocação, pois qualquer um se adapta com muita facilidade, eis que, comparativamente à iniciativa privada, a jornada de trabalho é menor, pois não há trabalhos aos sábados, os salários são maiores e, dificilmente haverá decepções maiores do que as que todo trabalhador costuma ter em seu ambiente de trabalho..

"Foquei nos tribunais e consegui"
Luiziany Albano Scherrer cursava Direito e fazia estágio quando passou no concurso de técnico judiciário do Tribunal Regional Federal e assumiu a vaga em fevereiro de 2005. "Não parei de estudar. Eu mesma fiz o meu plano de estudo, baseado no livro ?Como passar em concurso público? de William Douglas. Foquei nos tribunais, fiz provas de outros concursos". A rotina de estudos não parou. Pelo contrário, Luiziany conquistou a vaga de analista judiciário – área judiciária do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Minientrevista
Diná Sanchotene
dsanchotene@redegazeta.com.br

"O concurso dos sonhos é aquele que você passa", diz William

Veja as dicas de William Douglas, que é juiz federal, professor universitário, autor de mais de 20 obras, dentre elas o best-seller "Como passar em provas e concursos".

Quando vale a pena largar tudo para fazer concurso, levando em conta que está realmente difícil? Vale largar o trabalho?
Há quem faça isso e dê certo, mas não gosto muito dessa solução. Primeiro, porque a pessoa terá um prazo gerado pela quantidade de dinheiro que terá para se sustentar (indenização, FGTS etc), ou terá uma pressão extra de quem estiver bancando o projeto, além da própria cobrança interna. Outro problema é que alguém que não está acostumado a estudar várias horas seguidas não vai conseguir fazê-lo só porque deixou o emprego; isso é um processo de treinamento. Se a pessoa aprender a administrar seu tempo e a estudar com qualidade, terá grandes ganhos de produtividade no estudo sem precisar largar o trabalho.

É preciso levar em conta as atividades da vida pessoal, por exemplo? Quem tem muita coisa para fazer em casa, filhos, tem tempo para se dedicar?
Sim, com certeza, algumas pessoas possuem situações pessoais ou familiares que dificultam o estudo. Se alguém, nessa situação, começar a olhar para o lado e para quem tem mais tempo para estudar, talvez desanime. Mas o fato é que são pessoas com dificuldades, responsabilidades as que mais se esforçam e aprendem a se disciplinar. Na prática, pessoas que trabalham e têm filhos podem até levar mais tempo para passar, mas também passam.

Quais as dicas para o programa de estudos ideal?
O programa de estudos ideal é o que acontece. Não adianta fazermos planos maravilhosos e não praticá-los. Alguém que faça o possível e vá melhorando aos poucos tem mais chance de passar do que quem só planeja e não executa. E, anote-se, sem planejamento fica difícil também. É preciso planejar e executar o melhor possível.

Qual o concurso dos sonhos?
O concurso dos sonhos é o que você passa. Se ainda não for o "mais desejado", a pessoa passa e continua a estudar para o "mais desejado", tendo mais tempo e dinheiro para seguir na estrada do concurso, além de ficar mais confiante pelo resultado positivo alcançado.

Por que são tão difíceis?
Eles não são difíceis, as pessoas é que não compreendem que uma coisa tão boa como estabilidade, status, qualidade de vida e a chance de servir ao próximo e ao país não poderia ser "fácil" ou sem trabalho. O concurso tem regras claras e que permitem ao esforçado ter sucesso. Mais difícil é, ao meu ver, ficar desempregado.

Quanto se gasta hoje para alimentar esse sonho do concurso?
Depende de uma série de fatores, do tipo de concurso, do tempo de estudo etc. O importante é que a pessoa veja isso como um investimento e não como custo ou despesa.

Vocação para o serviço público: quais os cuidados para não se decepcionar com o ritmo diferente de trabalho?
Quem for competente e dedicado o suficiente para passar no concurso, terá todas as condições para ser um excelente servidor. Basta ser honesto, educado e cumpridor dos deveres que já será um orgulho para si e para todos. Vamos mudar esse país metro quadrado por metro quadrado. Cada brasileiro tem seu próprio metro quadrado de país e se este m2 for decente, trabalhador e honesto, o país vai melhorar muito.

FONTE: http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/local/a_gazeta/materia.php&cd_matia=475169