O Estado da Bahia e o "ranking" de competitividade das unidades da Federação
Acaba de ser publicado o levantamento realizado pelo Centro de Liderança Pública (CLP) e pela Tendências Consultoria Integrada, relativo a 2024, acerca do ranking de competitividade dos estados da Federação, estudo que vem sendo feito desde 2011. A posição do Estado da Bahia é vexatória.
No ranking geral, o Estado da Bahia situa-se na 22ª posição, acima, apenas, dos estados do Maranhão, Rio Grande do Norte, Acre, Amapá e Roraima. Se serve de consolo, no levantamento anterior (2023), o estado estava na 24ª posição, tendo avançado, assim, 2 posições, entre um e outro. Na outra ponta, estão na liderança os estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e o Distrito Federal, com o maior destaque positivo para o Espírito Santo, que, entre os levantamentos de 2023 e 2024, subiu 5 posições no ranking geral, ocupando, agora, a 6ª colocação.
Foram 10 os pilares utilizados no levantamento: Infraestrutura, Sustentabilidade Social, Segurança Pública, Educação, Solidez Fiscal, Eficiência da Máquina Pública, Capital Humano, Sustentabilidade Ambiental, Potencial de Mercado e Inovação.
Relativamente ao Nordeste, entre os 9 estados da região, a Bahia situou-se na 7ª colocação, posicionando-se melhor, apenas, em relação ao Maranhão e ao Rio Grande do Norte.
No que diz respeito ao pilar Infraestrutura, o estado de SP lidera o ranking. A Bahia ficou em 22º, acima, apenas, dos estados do Acre, Roraima, Amazonas e Pará. Isso reflete, principalmente, o estado de nossas rodovias federais, possivelmente uma das malhas mais precárias do País, mesmo quando se trata das poucas extensões concedidas à iniciativa privada. A situação das ferrovias do estado também é muito ruim, em razão do abandono a que foi relegada pela concessionária (FCA), com alguns trechos completamente desativados. E isto sem contar que elas não chegam aos portos do estado.
No que tange à Sustentabilidade Social, a Bahia ficou em 17º lugar, com Santa Catarina na liderança. À frente, na liderança, situam-se os estados de Santa Catarina, Distrito Federal e São Paulo.
Em relação à Segurança Pública, a posição do estado reflete a situação que nós, que aqui vivemos, já estamos cansados de saber: estamos na 19ª posição, com o estado de Santa Catarina liderando, mais uma vez, seguindo-se o Rio Grande do Sul e o Distrito Federal.
As graves falhas nas políticas públicas para a Educação na Bahia estão refletidos na colocação do estado no ranking relacionado a esse pilar: a 20ª colocação. Nenhuma surpresa, considerando-se, inclusive, os resultados que o estado vem obtendo nos diversos critérios de avaliação da educação, como são os casos do IDEB e do ENEM. Esse pilar, no País, é liderado pelo estado de São Paulo, sendo seguido pelos estados do Ceará e Minas Gerais. Digno de registro, nesse pilar, é a posição do Ceará, um estado aqui do Nordeste, que, nas últimas décadas, vem implementando políticas públicas de sucesso na área da educação, que têm resultado em significativos avanços nos índices de avaliação do setor.
Se há um pilar em que nos saímos bem é no que se refere à Solidez Fiscal. Esse aspecto, que é da maior importância, felizmente por aqui vem sendo observado já há mais de duas décadas. O posicionamento do estado foi o 3º lugar, tendo sido suplantado apenas pelo Espírito Santo e por Mato Grosso, o primeiro, como sabemos, um estado de pequena extensão territorial, mas com um dinamismo econômico bem interessante, notadamente em razão de se constituir num hub portuário importante; e o segundo, movido pela força do agronegócio, que faz do Centro Oeste uma grande força econômica, sendo responsável, hoje, por uma grande parcela das exportações brasileiras. Em relação ao levantamento anterior (2023), a Bahia avançou uma posição nesse quesito. O estado de São Paulo, detentor da maior dívida entre os estados, ocupa a 14ª posição, com as outras unidades mais endividadas ocupando a 22ª (Rio de Janeiro), a 25ª (Rio Grande do Sul) e a 26ª (Minas Gerais).
Outro pilar em que não fazemos vergonha é da Eficiência da Máquina Pública, que, evidentemente, guarda relação com o pilar anterior. A posição do estado é a 10ª, com 3 unidades da Região Sul na liderança (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina). Nesse quesito, a boa surpresa é a posição de Roraima, ocupando o 4º lugar.
O maior vexame mesmo para a Bahia é a situação do pilar Capital Humano, visto que estamos na última posição. É de se estranhar, porque o estado dispõe de instituições que se sobressaem na formação de pessoas, mesmo a nível nacional, como é o caso do Senai-Cimatec, e uma ou outra universidade pública de referência. Terá havido algum erro na compilação dos dados? De todo modo, mesmo que isso tenha ocorrido, a posição final certamente não seria das melhores, dado o nível da educação básica por aqui. Lidera esse ranking, mais uma vez, o estado de Santa Catarina, seguido pelo Distrito Federal e por Mato Grosso do Sul, outro estado que vem se beneficiando do impulso promovido pelo agronegócio.
Outro pilar em que estamos nas últimas posições é o Potencial de Mercado. Nossa colação é a 24ª, à frente, somente, de Pernambuco, Ceará e o Rio de Janeiro, este na última posição. Em relação ao Rio de Janeiro, creio ter havido algum problema na compilação dos dados, tendo em vista que não me parece lógico aquele estado, mesmo atualmente não sendo tão pujante como antes, ainda assim mantém um potencial de mercado significativo, não se justificando seu posicionamento na última colocação. Já quanto ao nosso estado, é de se compreender nossa colocação no ranking, visto entendermos que uma grande parcela de sua população pertence às classes menos favorecidas, em razão dos problemas estruturais que lhe afetam desde há muito tempo.
Também em relação ao pilar da Sustentabilidade Ambiental, estamos nas últimas posições, com a liderança ocupada pelo Paraná, seguido por São Paulo, Goiás e o Espírito Santo. A posição do nosso estado é a 20ª, à frente de Alagoas, Piauí, Acre, Sergipe, Maranhão, Roraima e o Rio Grande do Norte.
Quanto à Inovação, estamos quase na mesma situação do pilar anterior: ocupamos a 19ª posição. Na liderança, estão os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e o Amazonas, este último tendo avançado 2 posições em relação ao ranking anterior (2023), ao passar da 5ª para a 3ª posição. Nesse pilar, o Ceará também surpreendeu positivamente, ao saltar 6 posições entre os levantamentos de 2023 e 2024, chegando, nesse último, ao 7º lugar.
Desse modo, embora com alguns avanços pontuais, o estado da Bahia segue sem incorporar os principais requisitos desejáveis para a atração de investimentos de ponta que possam permitir melhores taxas de desenvolvimento econômico e social, não sendo atoa que, nas últimas décadas, vem perdendo espaços para outros estados do Nordeste.
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(*) Auditor Fiscal do Estado da Bahia (aposentado), exerceu os cargos de Chefe de Gabinete da Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia e de Secretário da Fazenda do Município do Salvador; atualmente é Diretor do Instituto de Auditores Fiscais do Estado da Bahia – IAF, membro do Conselho Deliberativo da Associação dos Servidores Fiscais do Estado da Bahia – ASFEB e do Conselho Deliberativo do Esporte Clube Vitória.