23/12/2025

IAF Sindical entrevista Alfredo Marcelino Pereira


Desta vez, nossa série de entrevistas com associados aposentados nos leva ao interior da Bahia, onde nasceu Alfredo Marcelino Pereira, em 7 de março de 1945. Filho de Dionísia Pereira Ramos e José Marcelino, ele veio ao mundo na zona rural — hoje distrito de Oliveira dos Campinhos — no município de Santo Amaro, e traz consigo uma história marcada pelas raízes, pela família e pelas experiências que construíram sua trajetória.

IAF Sindical: Conte-nos um pouco da sua história.

Alfredo: Tive pouco contato com meu pai na fase de criança, pois minha mãe se separou dele devido muitas brigas e ele bebia muito. Éramos sete irmãos e eu era o filho caçula. Na época, os filhos homens, quando eram liberados do serviço do Exército, logo procuravam sair da zona rural e o caminho era São Paulo. Em 1954, minha irmã mais velha morava em Salvador, já com família constituída e os demais moravam na Capital Paulista. Somente a minha mãe e eu morávamos na zona rural.

IAF Sindical: Como foi a sua formação?

Alfredo: Minha formação escolar até os 12 anos ocorreu em escolas instaladas em espaços de Fazendas vizinhas às que nós morávamos, alfabetização com a idade de 8 anos, interrompida quando cheguei à faixa dos 9 anos por falta de professora. Voltei à escola aos 10 anos e aos 12 anos concluí o terceiro ano primário. Esse novo período ocorreu em outra escola, também de fazenda, na qual eu me destacava como melhor aluno, mesmo tendo idade inferior à maioria do grupo.

Aos 13 anos esse processo escolar foi interrompido, quando uma das minhas irmãs, que foi para São Paulo, casou-se com empregado da Cia. Ferroviária Federal Leste Brasileiro e veio nos buscar em 1958 para morarmos na Capital Paulista. Em São Paulo passei 11 meses sem frequentar escola. Acompanhava meu cunhado que trabalhava na estação do Brás, e nos finais de semana fazia atividade de ajudante de um caminhão de meu irmão que realizava serviços de carretos e mudanças.

Minha mãe insatisfeita com a situação e não adaptada à cidade, haja vista não ter trabalho, resolveu retornar para a Bahia em 1959. Aqui em Salvador moravam duas irmãs, e nós ficamos na casa da que residia no Bairro da Liberdade, na Rua do Céu. Minha mãe ficou uns quatro meses e logo resolveu voltar para o interior, onde tinha muitas amizades e pessoas que eram próximas de nossa família. Havia também alguns parentes e eu fiquei sob os cuidados de minha irmã mais velha.

Em maio de 1959 o SENAI abriu inscrição para o Curso de Aprendizagem Industrial. Fiz inscrição e prova, mas não obtive êxito porque primeiro eu estava sem estudar e, segundo, o ensino na Capital era muito mais avançado do que o aprendizado que tive na escola rural.

Então, a alternativa era voltar a estudar e consegui uma matrícula na escola Abrigo do Povo à noite, na Liberdade, onde frequentei por um semestre. Mas no início de 1960 a escola foi fechada para reforma e as aulas foram suspensas. Então, no mesmo ano, o SENAI abriu inscrições para novos candidatos. Desta vez passei, e a partir do mês de julho de 1960 entrei no do Curso Preparatório do SENAI. A escola era localizada na baixa do Bonfim, Praça dos Dendezeiros, em frente à escola dos Oficiais da Polícia Militar, instalações estas que até hoje permanecem funcionando.

No SENAI integrei uma das turmas de alunos do curso preparatório, com aulas ministradas no turno da manhã. Em 1961, o período escolar do curso passou para a modalidade de tempo integral. A conclusão integral do curso, parte teórica e prática, era para acontecer em junho de 1962. O estágio obrigatório foi realizado nas instalações da Petrobrás, nas oficinas do complexo de Jequitaia na Calçada.

Minha formação educacional foi de certa forma complexa depois da conclusão do curso de aprendizagem efetuado no SENAI.

Em 1964 consegui a transferência em definitivo para o Instituto Central de Educação Isaias Alves (ICEIA), no Barbalho, onde permaneci até concluir o curso ginasial, em 1966. No ano seguinte, matriculei-me no Curso Científico do colégio Duque de Caxias, na Liberdade, tendo concluído em 1969, quando fiz vestibular para ingresso na UFBA, no Curso de Matemática, que disponibilizava 20 vagas. Queria ser professor da área de Ciências Exatas, mas não consegui uma vaga. Então cursei o Pré-Vestibular no Colégio Águia, e me inscrevi no vestibular de Administração. Em 1971 passei a ser aluno da UFBA, matriculado em quatro matérias, visto que as aulas eram concentradas nos turnos matutino e vespertino. Em 1972 fui incluído no Curso de Administração Pública.

Em 1979 fiz novo Vestibular na UFBA para o Curso de Ciências Contábeis tendo concluído em 1980. Em 1981 fiz o Curso de Especialização em Administração Financeira pela Universidade de UNA de Minas Gerais.

Em 1989 ingressei no Curso de Direito da Universidade Católica de Salvador com conclusão e diplomação em agosto de 2003. Em 2008 participei da turma do Curso de Doutorado em Direito que era ministrado pela Universidade Autônoma de Lisboa, tendo concluído a fase relativa aos créditos.

Fui professor da UNEB até 2011, onde galguei o cargo de Professor Adjunto. Também concluí em 2001 o Mestrado em Administração e Comércio Internacional, realizado em convênio entre a Casa do Comercio e a Universidade de Estremadura da Espanha.

IAF Sindical: Como foi sua vida profissional?

Alfredo: Em novembro de 1962, a empresa Bahema Importações e Exportações Ltda., representante dos produtos Caterpillar, abriu seleção para Auxiliar de Serviços de Manutenção com exigência de os candidatos serem alunos do SENAI. Fiz minha inscrição e me classifiquei entre os primeiros colocados, tendo sido contratado com 17 anos.

Em 1965, fui classificado em primeiro lugar no processo seletivo da Petrobrás para o Cargo de Auxiliar de Manutenção. Na estatal permaneci por 12 anos, tendo rescindido o contrato por decisão própria e assumi o cargo de Gerente da Cooperativa da CODEVASF, em Petrolina .

De 1966 em diante passei a realizar todos os concursos e seleções que surgiam e que se enquadravam em minha formação e propósito de vida. Passei em vários processos. No entanto, ficava ansioso esperando ser chamado, porque eu não podia ficar desempregado, pois minha mãe era minha dependente e precisava contar com assistência médica constante, além dos demais fatores de sobrevivência.

IAF Sindical: Como foi que você chegou ao cargo de Auditor Fiscal?

Alfredo: Em maio de 1987 saiu minha nomeação para o Cargo de Agente Fiscal V; em agosto de 1987 foi publicada a Portaria para tomar posse; e em setembro entrei em exercício.

No final de 1987 foi publicado o edital para os concursos públicos de Auditor Fiscal, Analista Financeiro e Contábil, com provas realizadas entre os meses de fevereiro e março de 1988. As inscrições poderiam ser efetuadas para no máximo dois cargos. Então fiz a inscrição para Auditor Fiscal (120 vagas) e para Analista Financeiro (26 vagas). Passei entre os quinze primeiros para Analista e entre os trinta primeiros para Auditor.

Em maio de 1988 houve a nomeação para os Analistas e dias depois para os Auditores. Desisti do cargo de Analista e assumi o cargo de Auditor Fiscal, no qual cheguei até o Nível VIII, que à época era o último nível.

IAF Sindical: Quais a suas experiências no cargo de Auditor Fiscal?

Alfredo: Durante o período que estive em atividade, trabalhei na ASPLAN, Coordenação de Fiscalização, área de revisão fiscal, Coordenação de Arrecadação, onde fiquei responsável pela área de avaliação, análise e cálculo do Imposto relativo aos contribuintes enquadrados no regime de apuração do imposto por estimativa. Trabalhei curto período na fiscalização do trânsito de mercadorias, em Salvador. Depois passei um período na Inspetoria de Senhor do Bonfim, de dezembro de 1984 até julho de 1985.

De outubro de 1985 até março de 1986 trabalhei na equipe do Imposto Único Sobre Produtos Minerais (IUM), tributo que era fiscalizado por Auditores Fiscais do Estado através de convênio com a Receita Federal. Depois assumi a Inspetoria da Fazenda do Iguatemi e logo depois assumi a função de Supervisor do grupo constituído pelos demais Auditores Fiscais da Unidade. Os serviços de Supervisão eram de programação e controle das ações de fiscalização em conjunto com o Inspetor e com o Diretor de Fiscalização, de acompanhamento das atividades dos Auditores Fiscais, sugetões de ações fiscais em estabelecimentos, recebimento de relatórios fiscais, recepção de contribuintes e profissionais de serviços contábeis, dentre outros. Permaneci na Infaz Iguatemi até junho de 1995, quando foi publicado o ato da minha aposentadoria.

IAF Sindical: O que mais te orgulha no período que você passou na SEFAZ?

Alfredo: A partir de então minhas atividades fiscais se encerraram, e durante o meu exercício na carreira de servidor do Grupo Fisco do Estado procurei cumpri-las com dignidade, profissionalismo, ética, transparência, decência e observância à Lei. Há de se ressaltar que estas características e princípios sempre estiveram presentes em minha vida, tão logo passei a entender minha missão nesse mundo como cidadão e ser humano.

IAF Sindical: O que você gostaria de dizer que não foi perguntado?

Alfredo: Durante todo esse percurso de vida só tenho a agradecer a Deus pelo caminho indicado, pela fé, perseverança, coragem, saúde, à minha mãe pela geração e por sempre nos ensinar os princípios da dignidade humana, associados à simplicidade, humildade, honestidade e sobrevivência.

Também quero registrar a presença de minha família e a minha maior grandeza que são os dois filhos, meus maiores amigos, e que hoje entendem o sacrifício e o pouco tempo que a eles foram dedicados pelo pai.

Agradeço também aos amigos e colegas da Sefaz, ressaltando que o conhecimento adquirido ao longo da carreira é um produto pessoal mas esse feito só foi possível porque o cargo de Auditor Fiscal oferecia condições de flexibilidade no desempenho das atividades laborais. Dessa forma o profissional poderia investir e desenvolver sua carreira pessoal. Por isso, considero que esta foi a oportunidade que eu esperava e o Estado da Bahia me proporcionou realizar o objetivo de minha vida.

Este relato traduz uma história de luta, de amor e de valorização à vida, de expressão de sentimentos, de superação e de vencer obstáculos e de alcançar objetivos. Tudo isso só ocorreu através de mudanças de valores, obstinação pessoal, sacrifício e dedicação ao estudo. A transformação só existe quando ocorre o processo de educação contínua e o ensino é o caminho que abre horizontes de capacidade intelectual que existe em cada ser.

Muito grato ao IAF pelo espaço aberto para este registro.

(*) Auditor Fiscal Aposentado e associado ao IAF Sindical.

compartilhar notícia

Comentários

Gostaria de dar sua opinião sobre o assunto? Preencha os campos abaixo e participe da discussão