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Chato como sou, volto a lembrar de Machado de Assis. Desta vez recorro a um texto publicado na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, em 1883, época em que nosso maior escritor estava preocupado com a ausência de regras mínimas para uso dos freqüentadores de bondes. Resolveu então propor algumas normas e eu aqui transcrevo a primeira delas: "Os encatarroados podem entrar nos bondes com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e, no caso de pigarro, quatro." Pois é. Regras mínimas são mesmo uma coisa boa, com ou sem tosse.
Na última segunda-feira, infelizmente, na falta de um Machado de Assis para ditá-las, vi na Assembléia Legislativa, da parte dos Agentes Tributários, uma pequena exibição de grosseria e despreparo para o debate, protagonizada por um casal que segurava cartazes onde se lia a palavra "MENTIRA" e que eram ostensivamente erguidos quando algum representante dos Auditores Fiscais se pronunciava.
Falta de educação explícita, mas insuficiente para embaçar o clima de democracia reinante. Presepadas da citada dupla à parte, o que pude ouvir, durante os debates, foi um discurso bem embasado de três Auditores que evidentemente haviam dividido e organizado seus argumentos, em contraposição a oito ou dez Agentes que se revezavam atabalhoadamente, falando bobagens e constrangendo a audiência.
A vexaminosa participação de um certo Luis Alberto, apresentado como representante do Secretário da Fazenda, não vale nem um comentário, dada sua inconsistência técnica. Enfim, de tudo que testemunhei no começo da semana, quatro conclusões pude extrair:
1) os Agentes Tributários querem mesmo promover um TREM DA ALEGRIA inconstitucional e imoral; 2) a atual administração da Sefaz é desastrosa; 3) o projeto de reestruturação das carreiras do fisco faz jus ao apelido que recebeu: "Cabeça de Bacalhau, todo mundo sabe que existe, mas ninguém vê"; 4) há um verdadeiro abismo separando Auditores Fiscais e Agentes Tributários. A superioridade intelectual dos Auditores e a precisão de suas informações ficaram evidentes, mas quero dizer também que estes profissionais não merecem só elogios.
À frente da Secretaria por muitos anos, transformaram-na num órgão de excelência, mas descuidaram da formação dos Agentes Tributários, que pararam no tempo e hoje, aparentemente, sequer as funções de auxiliar de fiscalização podem desempenhar a contento. Esta foi a minha impressão. Um órgão, por mais complexo que seja, não pode desprezar a formação de seus servidores de nível médio, como parece ter feito a Sefaz. Descartada a absurda unificação de atribuições e cargos, devem os Auditores, na condição de instrutores, ou melhor, de educadores, se entregar imediatamente a um esforço de qualificação de seus auxiliares, a fim de evitar que algumas cenas vistas na Assembléia se repitam. E que isso seja regra. (Antonio Vieira, economista)
FONTE: http://www.bahiaja.com.br/noticia.php?idNoticia=12182
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