17/10/2024

O Coletor Ambulante

Eu era Escrivão na Coletoria da cidade de Belmonte, no extremo sul do Estado. Ir para lá foi difícil, primeiro porque, naquela época, só se chegava lá de avião, nos antigos DC-3. Fiquei lá por 3 anos, até que consegui uma transferência para a cidade de Antônio Cardoso, próxima a Feira de Santana, onde assumi o cargo de Coletor, que estava vago. Essa Coletoria tinha pouco movimento, devido à presença de poucos comerciantes para recolher o Imposto sobre Vendas e Consignações, e o Imposto Territorial Rural era cobrado uma vez por ano; o volume de arrecadação dependia dos despachos de gado e de fumo, as duas únicas produções agropastoris da região. Mas, para fazer essa arrecadação, tive que me tornar um Coletor ambulante, porque os despachantes se negavam a se deslocar para Antônio Cardoso, e o melhor lugar para encontrá-los era em Feira de Santana, no dia da grande feira local, que se realizava toda segunda-feira. De pastinha na mão, onde guardava o Talão de Conhecimentos, eu os aguardava perto de um dos bancos locais. Ali, fazia os despachos, preenchendo na hora o conhecimento, recebia o dinheiro e entregava a primeira via ao interessado.

Em Feira de Santana havia uma grande repartição chamada Mesa de Rendas, que centralizava os trabalhos de arrecadação e fiscalização e também recebia as prestações de contas das Coletorias da redondeza para enviar, via malote, para o Departamento de Rendas, em Salvador.

Que diferença para os trabalhos da Administração Tributária de hoje, não é?! Mas que dá saudades, bem que dá! Esta é mais uma das muitas histórias fazendárias.

José Amândio Barbosa é Auditor Fiscal aposentado.

compartilhar notícia

Comentários

Gostaria de dar sua opinião sobre o assunto? Preencha os campos abaixo e participe da discussão