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Deu bode

Silvio Leone(*)

Nas décadas de 1980 e 1990, a Secretaria da Fazenda tinha em seus quadros uma dupla de Auditores Fiscais “experts” em máquinas registradoras: Reinaldo da Silva Lima (Reizinho) e Reinaldo Barbosa, ambos radicados na cidade de Alagoinhas-Ba. Reizinho era o “Astro Rei” em conhecimento de máquinas registradoras e sempre era acompanhado de seu escudeiro de fé, Reinaldo Barbosa. Os dois levavam conhecimentos sobre o processo de fiscalização das temíveis máquinas registradoras, por todo Estado e, também, para outros Estados do Brasil. Tomei vários cursos com eles, porém, por mais que Reizinho explicasse, sempre ficava com alguma dúvida sobre o processo, apesar da paciência e da boa didática utilizada por ele.

Reizinho era “showman” e suas aulas eram muito divertidas e sempre traziam histórias de nosso dia a dia, referente, principalmente, ao nosso trabalho, ora vividas por ele, ora vividas por algum colega, acontecidas em um desses 417 municípios de nosso extenso Estado. Em uma dessas aulas ele contou um fato surreal que nunca mais saiu da minha mente, mesmo tendo se passado mais de trinta anos. Um caso muito interessante e com um final surpreendente…

Contou ele para turma:

Passava das 18:00 horas. A escuridão era intensa, os movimentos de romeiros, nos paus-de-arara, eram intermináveis, os caminhões com suas lonas cobrindo os peregrinos, para protegê-los da chuva e do sol,  e os assentos de tábuas de madeiras, colocados de um lado a outro das laterais da carroceria que amenizavam um pouco o desconforto dos fiéis, mas a fé os deixavam alegres, sem desânimos e crentes de sua peregrinação, sempre cantando músicas religiosas, principalmente, Ave-Maria, em busca de pagar suas promessas e participarem do terço da divina misericórdia e bênçãos e da procissão com a imagem do Bom Jesus.

Lá para 19:00 horas, os prepostos da Secretaria da Fazenda, continuavam cumprindo os seus trabalhos à beira da estrada que dava acesso à cidade de Bom Jesus da Lapa, cidade da Região Nordeste do país, e situada na parte Oeste da Bahia que fica a 850 km de Salvador, capital da Bahia, quando de repente passou um caminhão de romeiros, rezando a Ave-Maria, coisa comum, pois já tinham passados vários carros de romeiros com as mesmas cantorias. O negrume não deixava os colegas enxergar quase nada à sua frente, era um verdadeiro breu. O veículo passou normalmente, como os que conduziam os romeiros que tinham passados recentemente, mas à medida que o carro foi se afastando, um dos colegas observou algo estranho: os olhos dos romeiros estavam a brilhar na escuridão. E concluiu rápido, com seu faro de detetive coisa muito peculiar em um astuto fiscal: Olhos humanos não brilham na escuridão – pensou ele! Pegou o carro e começou a perseguir o caminhão que se afastava rapidamente do local e, ao alcançá-lo, percebeu que o transporte estava repleto de bodes. Não eram romeiros e a surpresa maior para os colegas que fizeram a abordagem, foi ter encontrado na carroceria do caminhão uma vitrola a qual tinha um disco religioso, que estava tocando a música da Ave-Maria! Haja imaginação!…

Depois de ter feito a abordagem, foi feita a contagem dos caprinos e lavrado o competente auto de infração e o motorista seguiu viagem depois do pagamento do imposto com a multa correspondente, acreditando que apesar da bela estratégia usada, dessa vez não levara vantagem. Vida que segue…

Essas e outras histórias fazem parte do nosso folclórico baiano e de nosso trabalho fazendário, principalmente fatos acontecidos na fiscalização de trânsito de mercadorias.

(*)Auditor Fiscal
Supervisor SEFAZ/SAT/DAT-Metro/Infaz Varejo
silvioleone31@gmail.com

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